MESMA COISA
Todo fim de ano é a mesma coisa. Não falha. Basta o calendário virar para dezembro e, como num passe de mágica — ou melhor, de tarô promocional — surgem eles.
SABEM TUDO
os videntes, sensitivos, astrólogos, médiuns, cartomantes e especialistas em absolutamente tudo que ainda não aconteceu.
MICO
É um fenômeno tão previsível quanto amigo secreto com presente errado.
CASAMENTO
As previsões seguem um roteiro impecável, quase uma franquia. Alguém famoso vai casar.
SEPARAÇÃO E DIFICULDADES
Outro famoso vai se separar. Um terceiro vai “passar por um momento delicado”.
TRANSFORMAÇÕES
Haverá revelações, reviravoltas, energias em transição e, claro, um ano de desafios, mas também de grandes oportunidades.
FENÔMENO
Funciona assim: se o casal famoso casar, o vidente acertou. Se separar, também. Se não fizer nenhuma das duas coisas… foi porque “as energias mudaram”. Simples, elegante e infalível.
PACOTAÇO
No pacote básico de previsões, nunca faltam: Um político envolvido em polêmica (uau!); Uma crise econômica (quem diria!); Um artista enfrentando problemas emocionais (profundo); Um famoso que vai “sumir um pouco da mídia” (leia-se: tirar férias).
REVIRAVOLTA
Há ainda os videntes mais ousados, que anunciam: “vejo um grande acontecimento no mundo”.
COMUM
Normalmente algo que pode ser qualquer coisa — de um apagão a uma confusão no trânsito — mas que, depois que acontece, vira prova irrefutável do dom sobrenatural.
ESSA É UMA DAS MELHORES
E não podemos esquecer da clássica previsão genérica para todos nós: “2026 será um ano de escolhas.” Como se algum ano da história da humanidade não tivesse sido.
MEMÓRIA
O mais fascinante é que, ano após ano, ninguém lembra de cobrar as previsões furadas.
MEMÓRIA 2
Ninguém pergunta: “mas e aquela promessa de prosperidade, amor e dinheiro que você garantiu no réveillon passado?”.
MEMÓRIA 3
O futuro tem essa vantagem: quando chega, já virou presente… e o vidente já está ocupado prevendo o próximo.
TRADIÇÃO
No fundo, é uma tradição natalina. Assim como rabanada, retrospectiva e promessas de academia em janeiro.
MOTIVACIONAL
As previsões não precisam fazer sentido — precisam apenas dar esperança, render cliques e garantir que, no ano seguinte, tudo recomece igual.
CONCLUSÃO
E lá estarão eles novamente, com solução pra tudo, respostas pra nada e a mesma certeza de sempre: “O universo está conspirando.”
CONCLUSÃO 2
Conspirando, sim. Principalmente para que, todo dezembro, a gente caia na mesma história.
OBJETIVO
Rindo, desconfiando e, secretamente, torcendo para que pelo menos a previsão da prosperidade funcione dessa vez. Porque vai que, né?
AMULETOS
Quando o réveillon se aproxima, o brasileiro entra oficialmente em modo ritualístico.
AMULETOS 2
Não basta virar o ano: é preciso virar do jeito certo, com a roupa correta, a cor exata, o prato adequado e, se possível, a energia alinhada com Júpiter, Marte e o Wi-Fi da vizinha.
AMULETOS 3
As cores são o primeiro capítulo dessa liturgia moderna. Branco para paz. Amarelo para dinheiro. Verde para esperança. Vermelho para paixão. Azul para tranquilidade.
OBSERVAÇÃO
O curioso é que, se funcionasse mesmo, bastaria uma visita a qualquer praia no dia 1º de janeiro para perceber que o mundo estaria em perfeita harmonia — afinal, nunca se viu tanta gente vestida de branco ao mesmo tempo.
OBSERVAÇÃO 2
Mas o brasileiro é precavido. Vai de branco por fora e amarelo por dentro. Afinal, paz é importante, mas boleto não se paga com serenidade.
CEIA
Depois vêm os alimentos místicos. Comer lentilha para atrair prosperidade. Romã para fartura. Uva para sorte. Peixe porque nada pra frente. Até aí, tudo bem. Mas o folclore culinário vai longe.
PORCO
Há quem defenda comer carne de porco porque o porco “fuça para frente” e nunca para trás.
PORCO 2
Agora, sejamos honestos: se isso fosse verdade, não existiria lama, sujeira ou chiqueiro bagunçado no mundo.
PORCO 3
O porco, convenhamos, até pode olhar para frente, mas deixa um rastro que nem o passado consegue explicar.
CONCORRENTE
E o frango? Esse é evitado porque cisca para trás. A lógica é interessante. Se fosse assim, todo mundo que come frango passaria o ano inteiro tropeçando na própria história, revisitando boletos antigos e reencontrando ex indesejado.
REALIDADE
Ainda bem que a ciência — e o bom senso — não confirmam essa tese.
OUTRO
Há também a crença de que não se deve comer nada que “rasteje”, para não atrair dificuldades.
REALIDADE
O problema é que, se formos levar isso ao pé da letra, camarão, caranguejo e até a vida cotidiana estariam banidos.
NA PENDENGA
Porque, sejamos francos, o brasileiro passa o ano inteiro se arrastando para pagar contas — com ou sem crustáceo no prato.
FATO
No fundo, essas tradições dizem mais sobre esperança do que sobre misticismo.
FATO 2
A roupa colorida não muda o destino, mas muda o humor. A comida simbólica não garante riqueza, mas garante conversa na mesa.
FATO 3
E o ritual, mesmo meio sem sentido, dá a sensação reconfortante de que estamos fazendo algo para começar melhor.
FELICIDADE
Talvez o verdadeiro segredo do Ano-Novo não esteja na cor da roupa nem no que vai ao prato, mas em algo bem menos místico: rir de si mesmo, brindar com quem importa e entrar no ano novo com leveza.
ESPERAR
E se nada der certo, tudo bem. No próximo dezembro, os videntes voltam, as cores continuam valendo e o porco segue olhando para frente — enquanto a gente aprende, aos poucos, a não levar a vida tão a sério.
HUMOR
Porque fé é importante. Tradição também. Mas humor… esse, sim, ajuda a atravessar qualquer ano.
FRASE
Dias melhores começam no momento em que a gente decide não desistir.
PAUSA
Nesses dias de festas, a coluna vai dar uma pausa na política. Até para poupar os amigos leitores de tanta ladainha que tem se visto. Desejo que a presença de Deus e do menino Jesus traga alegrias com saúde, fé e esperança a todos os amigos de sempre.

Fonte: https://newsrondonia.com.br/noticias/2025/12/22/previsoes-de-fim-de-ano-o-milagre-anual-dos-videntes-que-sabem-tudo-menos-o-obvio/
